terça-feira, 14 de abril de 2009

Estados Unidos

Huntington Beach – The mirror (O Espelho)

Franquias de gosto seios
tacos bundas praia babys
carros roupas Ipod’s surf
frango artes chillis olhos
chillis artes frango surf
Ipod’s roupas carros babys
praia bundas tacos seios
gosto de franquias.




Gringos¹ têm olhos.
Enxergam, mas não vêem,
pois têm a dispersão no olhar.
Um quê de vazio, de
ignorância, de autoconfiança
exacerbada. Querem chegar e
assim permanecer: o sonho de estar
sem nunca se encontrar.

¹americanos

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Jalapão


O Restaurante da Rosa

A Rosa, o seu projeto de restaurante. Após 10 km de caminhada sob o sol do Tocantins, a mistura perfeita: arroz, feijão, pimenta e farinha. E água gelada.
Siriguela no pé, se quiser. Carne assada no forno, se tiver. Verduras e legumes não reconheciam a cidade há mais de 2 semanas.
O gado, tão pouco estimado, estava raro desde o dia 1º, dia da posse do novo Prefeito. Três gados e quatrocentas caixas de cerveja depois, a cidade experimentava o retorno à sua base, à sua condição cotidiana: a mistura da Rosa.
A quietude: ressaca do melhor vestido, do beijo perdido, do último gole mentido. O eco do forró projetado nos lábios de um povo que agora se cala e apenas acompanha o ritmo dos pingados forasteiros sentados na mesa do lado de fora da casa da Rosa. Somos seis: narrador, Maria, Rodrigo, a Rosa, a filha da Rosa e a outra filha da Rosa.
A Rosa vai ao fogão e repõe a lenha, coloca água e pica a cebolinha, lava os pratos e toca o cão, limpa a mesa e prende totalmente nossa atenção e olhar. Com absoluta destreza nos entretém e radicaliza sua sabedoria através da fala de ontem, agora, hoje, antes e durante. Tudo ao mesmo tempo, da mesma forma, com o cão, o chão, o feijão e as histórias de quem viu crescer esta cidade que sempre foi para ela exatamente igual. Como a mistura da Rosa.
A filha da Rosa nos acompanha na mesa ao lado. Falante, apenas uma dezena de anos nas mãos, ela provoca a mãe até o seu limite: Quer comprar chiclete. Não consegue, nos acompanha de perto, provoca a mãe e não consegue. Nos acompanha de perto, provoca a mãe, não consegue e nos acompanha. Provoca a mãe, não consegue, pagamos a Rosa, ela provoca a mãe e consegue. Foi comprar chiclete.
A outra filha da Rosa não se parece com a Rosa, tampouco com a filha da Rosa. Está distante, cabisbaixa, varre o chão e toca as galinhas. Possui quinze anos de pele morena e macia, olhos perolados seguidos por presentes sobrancelhas escuras. Seus cabelos negros escondem os ombros, que antecedem longos braços torneados. Vestido curto evidencia a perfeição de seu corpo: sem marcas, cicatrizes, rugas, brotoejas, misturas e pecado. Virgem como o Estado do Tocantins, virgem do saber reconhecer sua beleza.
Mudamos de cadeira para profundamente observá-la. Não conseguimos, a acompanhamos de longe, provocamos o olhar e não conseguimos. A acompanhamos de longe, provocamos o olhar, não conseguimos e a acompanhamos. Provocamos o olhar, ela nos vê, conseguimos, a acompanhamos de perto, as mãos suam, as pernas tremem, seus lábios são lindos, eles se abrem, seus movimentos são puros, seu rosto brilha, seu queixo se ergue, ele me atrai, suas pernas longas, sua bunda firme, seu rosto único, ele se expressa, seu nariz delicado, ele se abre, sua tez serena, ela abre a boca, seus cabelos se desarrumam, ela abre a boca, seus seios se encolhem, ela abre a boca, nós fomos embora.

Por quê, diabos, ela abriu a boca?